Projecto Dom Hugo na revista INOVAÇÃO (Brasil)

A revista Inovação (São Paulo, Brasil) que dedica particular atenção ao trabalho dos brasileiros espalhados pelo mundo, dedicou um artigo, da autoria de Ana Maria Ciccacio, à obra de Dom Hugo, no Porto. Mineira de origem, tripeira por convicção só posso ficar feliz com esta atenção. Um dia, quem sabe, havemos de fazer um projecto de reabilitação no Brasil, de preferência em Minas Gerais. Aguardo pelo desafio 🙂

Entretanto, deixo-vos a transcrição do artigo recomendando, no entanto, que não deixem do visitar o link de origem:

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Casa lusa em resgate. Imóvel em ruínas na cidade do Porto, no alto do Morro da Sé, recebe projeto de restauração, que alia contemporaneidade e história. A ideia surgiu de um professor português e uma arquiteta brasileira

Como nos versos do poeta Vinicius de Moraes: “Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada”. No miolo, ruínas. Em pé, edificadas em pedra, só as fachadas frontal, de fundos e as paredes laterais. A casa assentada sobre restos de uma antiga muralha romana, no alto do histórico Morro da Sé (Pena Ventosa ou Penhasco dos Vendavais), junto à Catedral e à Casa Episcopal da cidade portuguesa do Porto, era o que procurava há anos José António Oliveira Martins, professor na Escola de Música da Universidade de Rochester (EUA). Os objetivos: investir, ter onde ficar ao regressar para sua terra natal e alugar o imóvel a turistas.

O sonho de Martins era uma casa de três quartos ou que pudesse ser adaptada a essa tipologia, com valor patrimonial no Centro Histórico do Porto, boas vistas − de preferência para o rio Douro −, área para jardim e flexibilidade de usos. “Pronto”, como dizem os portugueses, a casinha em ruínas no no 19 da rua D. Hugo, antiga rua de Trás da Sé, a segunda mais antiga do Porto, com reminiscência medieval no traçado e pavimentação, perto da sede do Museu Guerra Junqueiro e da Associação dos Arquitetos do Porto, calhava perfeitamente.

De seus fundos, com espaço para o jardim, avistam-se a Muralha Fernandina (1336), de fatura românica, a centenária e fotogênica ponte em estrutura metálica de D. Luís I (1886), o Douro e seus barcos, a Vila Nova de Gaia com as famosas caves de vinho do Porto, além de boa parte do centro da cidade, tombado pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade, em 1996, e que desce pela encosta em direção ao rio com ruas tão estreitas quanto as que serpenteiam pelas favelas dos morros cariocas.

Todos os imóveis da rua haviam sido contemplados no Projeto Base para o Quarteirão D. Hugo, elaborado para recuperação pela Porto Vivo SRU – Sociedade de Reabilitação Urbana –, empresa de capital misto (60% do governo federal e 40% do municipal do Porto), que planeja, licencia e executa obras no centro histórico e em áreas de interesse social na cidade. “Esse aspecto representou, para mim, uma mais valia – lembra Martins –, pois, embora o documento não tivesse caráter vinculativo, mostrava um interesse institucional em incentivar os proprietários a fazerem obras de reabilitação tendo em atenção o conjunto do quarteirão.”

O investimento total no imóvel, nas contas de Martins, rondou os 290 mil euros (R$ 783 mil). A casa custou 80 mil euros e as obras, cerca de 170 mil. No mais foram impostos – houve redução de 23% para 6% do Imposto sobre Valor Acrescentado (IVA) –, projetos de arquitetura, execução, especialidades, arqueologia, fiscalização, licenças e alguma mobília.

O Brasil no Douro
Adriana Floret, mineira de Muriaé, radicada no Porto há mais de 15 anos, presidente da recém-criada Associação Portuguesa para Reabilitação Urbana e Proteção do Patrimônio, cuidou da restauração. É do escritório dela, conveniado à Porto Vivo e especializado em recuperação de patrimônio histórico, o projeto de restauro e modernização da moradia adquirida por Martins. Adriana encarregou-se de preservar o que restou de história, atender aos anseios de Martins e de propor uma reconstrução avançada para o interior destruído com vistas aos padrões de conforto da atualidade.

Na primeira visita ao imóvel, em março de 2010, um susto: estava tão mal conservado que não deu para entrar e ver o interior. “Ao fim, o resultado foi altamente compensador porque o investimento feito se compara ao de comprar um apartamento novo na cidade, mas sem a localização privilegiada da casa”, afirma Martins.

De fato, o harmonioso diálogo conseguido pelo projeto entre os remanescentes históricos e os elementos contemporâneos tornou atraente a velha-renovada residência. Para a edificação estreita e vertical (pouco mais de 4 m de frente, cerca de 25 m de fundo), manteve-se os dois pavimentos originais a partir da cota da rua e criou um terceiro, em piso parcialmente enterrado (cave). Assim, atendeu ao desejo do proprietário de três quartos (um deles perto da cozinha-sala de refeição-estar na cave), mais um amplo deck dando para a paisagem e o jardim. Articulando os três pavimentos de 60 m2 cada um, criou-se uma escada central com guardas em chapa metálica e soleiras em madeira, como um elemento simultaneamente escultural e funcional subindo pelo pé direito de 6 m.

“A parede de pedra à vista, no interior da casa, foi uma opção estética e não uma imposição das leis de preservação do patrimônio”, diz Adriana. “Quando começamos a retirar a argamassa, percebemos a pedra e a mantivemos, assim como não usamos cimento armado nas estruturas, só madeira e metal.” Mesmo assim, em cumprimento às diretrizes do patrimônio histórico, devido à localização do edifício e intervenção que sofreria, a arquiteta teve de contratar sondagens arqueológicas sob a orientação da prefeitura do Porto.

De tão relevante, o resultado das sondagens impediu o rebaixamento da cota da cave em toda a sua extensão, como o projeto previra originalmente. “Tivemos de alterar os planos durante a obra e fazer um desnível”, conta Adriana. O achado – restos de uma antiga muralha romana (ou melhor, um muro defensivo) – precisou ser cuidadosamente protegido por uma caixa de madeira (daí os degraus que levam a um segundo nível na sala de estar), o mesmo ocorrendo com um lajeado de história mais recente, também achado durante as escavações.

Conforme o relatório arqueológico, o muro “é idêntico aos que se encontram nos castros” (restos de construções circulares em pedra, feitas por um povo que habitou o lugar no século II a.C., antes da chegada dos romanos). “Contudo – prossegue − os estratos arqueológicos escavados, com os quais tem uma relação estratigráfica, só possuem materiais enquadráveis no Mundo Romano. Esse dado pode indiciar que essa estrutura, embora mais antiga, foi sendo aproveitada e reformulada durante o Mundo Romano. Todavia, as intervenções arqueológicas realizadas nas imediações da habitação (casa de no 19), nomeadamente no Antigo Aljube Eclesiástico (edificação na qual a Porto Vivo está prestes a fazer adaptações para instalar uma residência universitária), detectaram uma estrutura com características semelhantes. Aí, e ao que parece, foi possível conotá-la com níveis arqueológicos da Idade do Ferro.”

A Porto Vivo tem hoje no Morro da Sé como projetos-âncora, com recursos do Banco Europeu de Investimentos, também a reabilitação de imóveis para um hotel, um lar da terceira idade, realojamento das 27 famílias removidas do local para a realização das obras e 80 apartamentos que irá lançar no mercado de arrendamento social. “A crise econômica não afetou nossa capacidade de terminar as obras, porque o investimento estava previamente assegurado”, garante a administradora da entidade, a economista Ana Paula Delgado. “Para cada euro público investido no Centro Histórico, foram investidos outros 9 euros privados.”

Os proprietários privados se sentem estimulados a recuperar seus imóveis quando percebem que o poder público investe em reabilitação urbana. A casa vizinha à de Martins, por exemplo, está em fase final de obras e deverá servir de moradia ao proprietário, como informou a empreiteira Habitocubo. “Mas o fato é que diminui significativamente o número de projetos privados, por conta da crise econômica, e, no aspecto público, não tenho mais condições para lançar intervenções como essas no futuro próximo”, lamenta Ana Paula.

Caso esse processo sofra solução de continuidade haverá um retrocesso. O que se vê hoje no Porto é que a manutenção da identidade do centro histórico, assim como o investimento para reabilitá-lo e conscientizar sua população a zelar por ele, fortaleceu o turismo, que tem sido o motor da economia local nos últimos anos.

De 2004 a 2011, o número de turistas cresceu 26,75% no Porto. Outras razões, segundo a gerente de produtos da Porto Convention & Visitors Bureau, Maria João Nunes, seriam a maior difusão da cidade por ter sido Capital Europeia da Cultura, em 2001; a remodelação do Aeroporto Sá Carneiro, eleito o 3o melhor aeroporto da Europa nos últimos seis anos; os voos de baixo custo; as novas infraestruturas turísticas (hotéis, restaurantes e locais de diversão); e melhorias no espaço público.

Participar da aventura da reabilitação urbana de centros históricos, no entanto, requer determinação. “Os bancos exigem projeto de obra aprovado para conceder empréstimo para a compra de imóvel em ruínas, o que coloca o comprador na posição ingrata de ter de encomendar um projeto e pagar as licenças correspondentes antes mesmo de poder comprar o imóvel”, diz Martins. “No meu caso, entrei em acordo com a arquiteta Floret e o vendedor, o que permitiu levar o processo a bom termo. Mas, para além das circunstâncias e desafios, é um estímulo e uma realização pessoal e social fantástica poder contribuir para a revitalização do centro histórico do Porto.”

Fim de obra!

D. Hugo foi uma obra breve. O projecto foi amadurecendo de lá para cá, de cá para lá, como quem diz: entre a equipa de arquitectura, as labirínticas entidades oficiais, as inúmeras especialidades mais ou menos herméticas e o feliz proprietário (durante grande parte do processo, ausente no estrangeiro). No fim, bastaram oito meses de obra para que a montanha de papel gerasse uma casa. Esta é a nossa regra de ouro: tempo investido em projecto, é tempo poupado em obra! Não sem alguma vaidade, reforçamos: saiu-nos uma bela casa!  (ver o antes aqui, aqui e aqui). O trabalho fotográfico sobre o resultado final ficou ao encargo de Rodrigo Peixoto. Fica aqui uma amostra.

Dia Nacional dos Centros Históricos

A visita guiada às nossas obras em curso no Centro Histórico do Porto correu muito bem. Confessamos que ficámos um pouco surpreendidos com as cerca de 40 inscrições registadas, o que só demonstra que há um grande interesse por parte do público quanto ao que se passa no Centro Histórico. “A pedido de várias famílias” estamos a programar uma segunda visita guiada para muito em em breve. Obrigado, mais uma vez, a todos!

Visitas ao Centro Histórico do Porto

Floret Arquitectura vai participar pela primeira vez nas comemorações do Dia Nacional dos Centros Históricos no dia 31 de Março e por isso organizou um roteiro com três das suas obras em desenvolvimento em pleno Centro Histórico do Porto.
Deste roteiro fazem parte as obras de São SebastiãoCasa D. Hugo e a In Pátio. Os proprietários juntam-se a esta iniciativa assumindo o papel de anfitriões nas respetivas obras. O objetivo é que, para além do ponto de vista do projectista e do empreiteiro, os participantes no evento também tenham a oportunidade de conhecer a perspetiva do proprietário, que é, afinal o verdadeiro protagonista do processo de reabilitação.
A participação na visita guiada é gratuita. No entanto, o número de participantes é limitado. Solicitamos, por isso, uma inscrição através do email info@floretarquitectura.com até às 12horas de sexta-feira dia 30 de Março. Qualquer dúvida estamos ao dispor através do email referido anteriormente ou através do contacto 917405510 (Adriana Floret).

Ponto de Encontro: Terreiro da Sé (junto do Posto de Turismo)
Hora de início: 15:00
Duração aproximada da visita: 2 horas

Serralharia

Hoje foi dia de visita à obra da Casa D. Hugo. A visita é sempre agradável, até porque é uma das nossas obras com as vistas mais belas da cidade, conforme já tiveram oportunidade de ver em artigos anteriores. Mas hoje o assunto é a serralharia. Já foram executadas as guardas em chapa que pretende funcionar como elemento simultaneamente escultural e funcional.

Vista da entrada

Patamar

Pormenor da guarda

Vista do piso 1

Com vistas destas…

Revestimentos

Após à conclusão das infraestruturas, deu-se início aos revestimentos, nomeadamente nas paredes que serão revestidas a gesso cartonado com isolamento pelo interior da caixa de ar.

Vista da entrada - piso do rés-do-chão

Vista do piso 1

Também foi concluída o revestimento da fachada tardoz, na zona do recuado, em soletos de ardósia.

Vista do recuado - fachada tardoz

Vista para a zona da escada

Infraestruturas

Após a conclusão da estrutura mista, metálica  e madeira, deu-se início à execução das infraestruturas, nomeadamente a de abastecimento de águas e drenagem de águas residuais. Foi também simultaneamente iniciada toda a infraestrutura relacionada com a climatização do edifício.

Vista do hall de entrada

Vista aproximada de uma das instalações sanitárias

Nesta fase também se prepara o pavimento da cave, um pavimento com caixa de ar.

Vista da cave

Estruturas II

Já está concluída a estrutura. A seguir daremos início às infra-estruturas. Nas fotografias em baixo já é possível ver as escadas metálicas já executadas.

Vista para a cave e piso do rés-do-chão

Vista do piso do rés-do-chão

Vista da escada de acesso ao piso das águas furtadas

Vista do tecto

Vista da cobertura - piso das águas furtadas

Estruturas I

E a obra continua com a execução da estrutura…Será concluída em breve, com a cobertura revestida por telha cerâmica e chapa de zinco.  Depois passaremos para as escadas, também metálicas, mas revestidas a madeira.

Estrutura da Cobertura

Estrutura da fachada tardoz

Imagem do interior - piso do rés-do-chão


Adriana Floret
Adriana Floret - Arquitectura Ldª Rua de Entreparedes, 68
4000-198 Porto
PORTUGAL
Telemóvel: 917405510 Telefone/Fax: 220174595
www.floretarquitectura.com adriana@floretarquitectura.com

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